segunda-feira, 3 de novembro de 2008

UTI Neonatal : Começando a vida com risco de morte...


Passados 48 horas do nascimento da minha princesinha pude vê-la na Uti Neonatal.
O corredor que separava meu quarto até a porta de vidro da Uti Neo parecia enorme e sombrio.
Muitas mães aguardavam o horário de visita e comentavam sobres seus pequenos heróis: as evoluções, as recaídas, o tempo em que já se encontravam internados... alguns há dias,outros há meses!
Nesse instante pensei: “Meu Deus,não vou suportar!”
As portas de vidro se abriram e liberaram nossa entrada.
Fiquei perdida: não sabia o que fazer...não sabia qual daqueles minúsculos bebês era a minha...eu não a conhecia ainda.
A enfermeira,então, me explicou os procedimentos necessários antes de atravessar uma outra porta de vidro: lavar as mãos,pegar um avental e aguardar que “iria verificar qual era minha RN”...
Após alguns segundos, que pareciam, horas, minha “rn” foi localizada e ,então, fui conduzida até seu “bercinho”,não sem antes ser advertida:
“ Mãezinha,hoje você só vai vê-la,não vai poder pegá-la no colo...Vou abrir esta portinha e você só poderá tocá-la!”
Concordei com um balançar de cabeça...Meu coração estava apertado demais e as lágrimas teimavam em descer...não tinha condições nem de balbuciar algo...
Minha pequena estava ali,cheia de fios, toda furadinha, respirando com a ajuda de um caninho e se alimentando por uma sonda
Tão pequenininha ...tão frágil...Mas tão guerreira!
Toquei sua minúscula mãozinha,acariciei seus cabelinhos e as lágrimas desciam de meus olhos,sem que eu pudesse contê-las...
Estava diante de uma nova e dolorosa realidade, diferente das minhas expectativas, e comecei a indagar: Meu Deus, por que comigo? Por que com ela?
Um turbilhão de sentimentos e sensações me invadiam: culpa, medo,impotência.
Buscava justificativas para o que estava acontecendo, procurava culpados, me culpava...
Onde foi que eu falhei?
Na manhã seguinte tive alta hospitalar,mas minha pequena continuaria na Uti Neonatal por tempo indeterminado...
Uma sensação de vazio me dominava: eu estava voltando para casa sem meu barrigão e sem bebê algum nos braços...
Sabia que iria chegar em casa com os braços vazios,iria ver seu berço também vazio e que as pessoas viriam me “consolar” ao invés de me parabenizar pela pequena Duda...e como eu iria explicar ao João que sua irmãzinha não tinha vindo...Meu Deus!
Como seriam as madrugadas sem nossa pequena?
O que fazer com o leite que escorria de meus seios?
Me sentia frustrada...meus sonhos haviam se desmoronado!
Meu marido tentava me dar forças,mas percebia sua voz embargada e isso me doía mais ainda, como se eu tivesse culpa por não ter conseguido “segurar” a gravidez até o final.
Sabíamos que enfrentaríamos dias difíceis...Atravessaríamos um deserto...Mas ficaríamos ao lado de nossa pequena e lutaríamos com ela.
E assim foi: todos os dias "viajávamos" até o hospital para vê-la.
A cada visita sentimentos se misturavam: euforia por poder revê-la e quem sabe trazê-la para casa (mesmo sabendo que isso,ainda, não seria possível,pois nos deram uma “previsão” e ligariam quando fosse o dia d) e medo em chegar lá e o pior ter acontecido.
Situações assim já faziam parte da nossa travessia: nas visitas víamos mãezinha alegres por ,finalmente, poderem levar seus pequeninos para casa e também mãezinhas em desespero por receberem a notícia de que seus filhotes cumpriam sua pequena missão na terra.
Passamos a viver um clima de ansiedade,preocupação,insegurança,esperança,decepção,força e desalento e tínhamos que fazer um esforço intenso para nos adaptarmos a nova realidade: tínhamos muito medo de que ela não sobrevivesse,mas não podíamos esquecer que ela estava viva e lutando bravamente.
Meu marido procurava disfarçar suas angústias e aflições,mas no domingo do dia dos pais,não agüentou: chegamos para a visita e colado a incubadora havia uma cartinha da “Duda” para ele,dizendo o quanto estava feliz por tê-lo como pai e com o carimbo de seus pezinhos.
Foi uma linda homenagem da equipe da Uti Neonatal a todos os Papais de Uti.
Ele pegou aquela folha e disse: “o papai também te ama e logo você vai pra nossa casinha!”
E assim os dias foram passando entre altos e baixos...melhoras e recaídas...sempre esperando o amanhã.
E,finalmente, esse dia chegou para nós: ligaram do hospital que nossa pequena grande guerreira estava de alta...

3 comentários:

lia disse...

Ja sabendo q era uma linda

menininha estavamos aq todos

ansiosos pra chegada da nossa

princesinha afinal so tinha

menininhos por aq porem muito

amados!!!

mas seria novidade ter mais uma

florzinha no nosso jardim.....

Mas realmente foi um desepero td q

passou minha amiga pois sofreu

muito pois so ela mesmo pra

descrever a dor de ver um filho

na UTI.

Sofremos juntas a agonia e a

espera da saida da nossa florzinha

do hospital...

Vam vc e uma pessoa abençoada viu

amo vc pra sempre........

PS..nossa meu comentario ate ta parecendo continuação do seu blog mas não e isso e q fico muito contente de fazer parte da sua vida tão de perto em qualquer situação to com vc pra TUDO SEMPRE!

Aguida Borges disse...

Minha querida amiga,me emocionei muito com seu relato,eu sempre fiquei do outro lado,presenciando os fatos e cuidando daqueles minusculos seres senti aflorar em mim o q significa ser mãe de UTI,Eu que sempre tive que me manter firme diantes de todos os fatos estando em plantão, pude colocar agora pra fora todas as lagrimas guardadas em tanto tempo de profissão.
Que Deus abençõe sua linda familia(que agora é minha tbm) e que a Duda tenha sempre muita saude.
Vc é uma pessoa maravilhosa e excelente escritora..rsrsrsr
Mil Beijos...

Janaina Marcondes disse...

Tive que esperar um pouquinho pra conseguir escrever alguma coisa, fiquei tão emocionada com tudo que li, q não conseguia parar de chorar...Em especial sobre a msg do dia dos Pais com o carimbo dos pézinhos da Duda! Nossa, me veio a cena na cabeça... Sem palavras!
Certas coisas não tem explicação Van... Uma delas é o que eu tô sentindo lendo o seu blog... Eu me lembro da luta de vcs qdo a Duda nasceu, mas só agora lendo o passo-a-passo é que eu estou tendo uma noção do sofrimento de vcs...
E lendo tudo isso, o rostinho dela naquele dia comendo a sopinha q eu estava dando, não me sai da cabeça!
Realmente ela, vc e o Ronaldo são guerreiros e abençados por Deus... Pois acredito muito que graças à ele ela está aí c/ vcs vencendo cada obstáculo que aparece!
Bom... Agora mais do que nunca, ela se torna especial para mim! No domingo quero dar um gde abraço nessa pequena e dizer à Deus muito obrigada!
Ela é linda e merece o melhor da vida!
Bjos emocionados de verdade!